segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O que é indisciplina?

Por trás desse problema - visto pelos professores como um dos principais entraves da boa Educação -, há a falta de conhecimento sobre o tema e de adequação das estratégias de ensino

Sua paciência está por um fio. A garotada voa pelos corredores, conversa em sala, briga no recreio, insiste em usar boné e em trazer para a sala materiais que não são os de estudo. Cansado e confuso, você se sente com os braços atados e a autoridade abalada. Não suporta mais as cenas que vê e não sabe o que fazer. Quer obediência! Quer controle! Quer mudanças no comportamento dos alunos!

Calma... Respire... Se você sonha com uma turma atenta e motivada, a primeira mudança necessária talvez esteja em você. É hora de rever sua ideia de indisciplina e o que há por trás dela. Pesquisa realizada por NOVA ESCOLA e Ibope em 2007 com 500 professores de todo o país revelou que 69% deles apontavam a indisciplina e a falta de atenção entre os principais problemas da sala de aula. Doce ilusão! O comportamento inadequado do aluno não pode ser visto como uma causa da dificuldade para lecionar. Na verdade, ele é resultado da falta de adequação no processo de ensino.

Para que você avance nessa reflexão, é preciso entender que a indisciplina é a transgressão de dois tipos de regra. O primeiro são as morais, construídas socialmente com base em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. Por exemplo, não xingar e não bater. Sobre essas, não há discussão: elas valem para todas as escolas e em qualquer situação. O segundo tipo são as chamadas convencionais, definidas por um grupo com objetivos específicos. Aqui entram as que tratam do uso do celular e da conversa em sala de aula, por exemplo. Nesse caso, a questão não pode ser fechada. Ela necessariamente varia de escola para escola ou ainda dentro de uma mesma instituição, conforme o momento. Afinal, o diálogo durante a aula pode não ser considerado indisciplina se ele se referir ao conteúdo tratado no momento, certo?

Não é fácil distinguir entre moralidade e convenção. Frequentemente, mistura-se tudo em extensos regimentos que pouco colaboram para manter o bom funcionamento da instituição e o clima necessário à aprendizagem em sala de aula. "As crianças não enxergam a utilidade de um regimento ou dos famosos combinados que não se sustentam. Elas não sentem a necessidade de respeitá-los e acabam até se voltando contra essas normas", explica Ana Aragão, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A situação piora ainda mais se essas convenções se baseiam em permissões, proibições e castigos sem nenhum tipo de negociação. Se isso funcionasse, as escolas estariam todas em paz. Esse caminho - o mais comum - é tão claramente ineficaz que se tornou um dos principais motes das tirinhas de Calvin, o personagem questionador e cheio de personalidade criado pelo cartunista norte-americano Bill Watterson. Desde 1985, ele dá um baile na professora, mesmo sendo advertido constantemente. Nesta reportagem especial, você verá que as situações vividas por ele refletem uma concepção equivocada, por parte da escola, sobre as causas da indisciplina e as formas de lidar com ela.

FALTA DE AUTORIDADE O que se espera da escola é conhecimento. É isso que faz o aluno respeitar o ambiente à sua volta. Se a aula está um tédio, ele vai procurar algo mais interessante para fazer.

Sem sua ajuda, a criança não aprende o valor das regras
O movimento contínuo de construção e reavaliação de regras, mais o respeito a elas, é a base de todo convívio em sociedade. Da mesma forma que os conflitos nunca vão deixar de existir na vida em comunidade - no contexto escolar, especificamente, eles também não vão desaparecer. Saber lidar com eles faz com que você consiga trabalhar melhor. Ensinar o tema aos alunos também é uma tarefa sua. "Esperar que os pequenos, de modo espontâneo, saibam se portar perante os colegas e educadores é um engano. É abrir mão de um dever docente", explica Luciene Tognetta, do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp.

Muitos professores esperam, sem razão, que essa formação moral seja feita 100% pela família. "Não se trata de destituí-la dessa tarefa, mas é preciso enxergar o espaço escolar como propício para a vivência de relações interpessoais", pondera Áurea de Oliveira, do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Rio Claro.

As questões ligadas à moral e à vida em grupo devem ser tratadas como conteúdos de ensino. Caso contrário, corre-se o risco de permitir que as crianças se tornem adultos autocentrados e indisciplinados em qualquer situação, incapazes de dialogar e cooperar. Pesquisa de 2002 com 120 universitários, de Montserrat Moreno e Genoveva Sastre, da Universidade de Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprenderam na escola para a resolução de conflitos na vida adulta. Apenas 3% apontaram que os professores lhes ensinaram atitudes e formas específicas de agir. "Esses resultados certamente são próximos da realidade brasileira", afirma Luciene. "Nosso estilo de ensinar é parecido, pois joga pouca luz sobre o currículo oculto, aquele que leva em conta o sentimento do estudante, seus desejos, suas incompreensões."


DIDÁTICA INADEQUADA Não adianta exigir que os alunos cumpram as tarefas se a estratégia de ensino e o tema não dizem nada a eles.

Em vez de agir sobre a consequência, procurar a causa
Saber como o ser humano se desenvolve moralmente é essencial para encontrar as raízes da indisciplina. Antes de entender por que precisam agir corretamente, as crianças pequenas vivem a chamada moral heterônoma, ou seja, seguem regras à risca, ditadas por terceiros, sem usar a própria consciência para reelaborá-las de acordo com a situação. Por exemplo: se elas sabem que não se deve derramar água no chão, julgam o fato um erro mesmo no caso de um acidente. Nessa fase, a autoridade é fundamental para o bom andamento das relações.

Por volta dos 9 anos, abre-se espaço para a moral autônoma, quando o respeito mútuo se sobrepõe à coação. Mas a mudança não é mágica. O cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) questionava a possibilidade de a criança adquirir essa consciência se todo dever sempre emana de pessoas superiores. Assim, é possível dizer que a autonomia só passa a existir quando as relações entre crianças e adultos (e delas com elas mesmas) são baseadas, desde a fase heterônoma, na cooperação e no entendimento do que é ou não é moralmente aceito e por quê. Sem isso, é natural que, conforme cresçam, mais indisciplinados fiquem os alunos.

A atuação docente inadequada em sala é outra causa da indisciplina. "Embora os professores anseiem por uma solução, acham-se perdidos por não poder agir com a rigidez de antigamente, que permitia até alguns castigos físicos", afirma Áurea. A autoridade do professor perante a classe só é conquistada quando ele domina o conteúdo e sabe lançar mão de estratégias eficientes para ensiná-los. Se não, como bem descreve o psicólogo austríaco Alfred Adler (1870-1937), a Educação se reduz ao ato de o aluno transcrever o que está no caderno do professor sem que nada passe pela cabeça de ambos. "O resultado é o tédio. E gente entediada busca algo mais interessante para fazer, o que muitos confundem com indisciplina. A escola é, sem dúvida, a instituição do conhecimento, mas é preciso deixar espaço para a ação mental da turma", afirma Luciene.

Olhar para a sala de aula tendo como base essa concepção de indisciplina faz diferença. Os benefícios certamente serão maiores se houver o envolvimento institucional. Por isso, o trabalho exige não apenas autorreflexão mas também formação e esforço de equipe. Para transformar o ambiente, o discurso tem de ser constante e exemplificado por ações de todos.


REGRAS IMPOSTAS Quando a conversa é sempre proibida, você perde a chance de favorecer a troca de ideias.

Na próxima semana: Como se resolve a indisciplina.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mantenha a curiosidade da turma aguçada

É domingo de manhã em Miami e faz muito calor! Numa sala abafada, com uma voz monótona, o professor começa a ler Marcos 2. É a passagem que fala dos quatro homens que fizeram uma abertura no telhado de uma casa para descer um amigo paralítico na frente de Jesus.

Os alunos estão parados, curtindo um tédio total... até que ouvem passos no telhado. Em seguida, ouvem o barulho de uma serra elétrica sendo ligada, e o rumor ensurdecedor da serra elétrica abrindo um buraco no telhado da sala. Começam a cair cacos. Os meninos se agitam e o pó se levanta, enquanto quatro homens abrem o telhado com a serra. Depois, é a vez deles. Descem um dos colegas na frente do professor, que sorri e diz: "Filho, os teus pecados estão perdoados. Levanta-te, toma o teu leito e anda". E assim o professor consegue que sua classe acorde e fique atenta!

Observação: A sala, nesse caso, estava para ser reformada.

Um dos motivos de os alunos estarem tão saturados com as aulas é que as aulas são previsíveis demais. Eles sempre vão às mesmas salas, sentam-se nas mesmas cadeiras, usam os mesmos livros, ouvem as mesmas histórias, e olham para as mesmas paredes, às vezes com o mesmo mapa da Palestina.

Quando quebrarmos a rotina e fizermos com que eles perguntem: "Que será que vai acontecer por lá hoje?", teremos uma classe de gente alerta, cheia de expectativas. Da próxima vez que você vir a classe parada, entediada, tente fazer algo inesperado. Combine com algumas pessoas para aparecerem na classe vestidas a caráter, representando os personagens bíblicos da lição.

Seus alunos vão vibrar com as surpresas e, como o professor da Flórida que quebrou o telhado da sala, você vai provocar lembranças que durarão muito tempo.

Na próxima semana: Cuidado: você poderá gostar muito dessa turma; Se tiver dúvida, diga: "não sei"; Tenta algo exagerado.

Proporcione experiência à sua turma

Uma certa vez um homem deixou seu filho encher o tanque com a bomba de gasolina no posto self-service. Ele pôs o revólver da bomba na mão do menino e entrou no posto para efetuar o pagamento. Quando voltou, o garoto estava esguichando gasolina no carro todo, ao invés de encher o tanque. (Felizmente não pegou em ninguém!)

Jogar gasolina no carro pode dar certo se a intenção é incendiá-lo, mas não o ajuda a ir a parte alguma. O mesmo pode dizer-se do meio acadêmico.

Comecemos pensando em que o conteúdo pode ajudá-los especificamente. Façamos perguntas como:

"O que quero que meus alunos saibam, sintam e façam?"

"Como os alunos podem experimentar essas verdades no seu dia-a-dia?"

Em segundo lugar, demos aos alunos a oportunidade de aplicar o que estão aprendendo. Dentro do período de aula, temos de dar tempo para perguntas sobre a aplicação da lição, como por exemplo:

"O que seria diferente em sua vida se você pusesse em prática essa verdade em casa? Na sociedade? Com seus amigos?"

A coisa mais importante que devemos ter em mente, não é o que os alunos aprendem mas como a vida deles poderá ser diferente por causa daquilo que aprendem.

Providencie que a turma goze de bons relacionamentos

Um especialista em crescimento de igrejas tem uma teoria que se chama fator amizade. Sua tese é que as pessoas que visitam uma classe de escola dominical assumirão o compromisso de se tornarem alunos, se fizerem amizade dentro do grupo. Os que visitam e não fazem amizades, com o passar do tempo desaparecem, por melhor que seja a programação.

O ambiente acadêmico e de escola dominical oferece grandes oportunidades para o desenvolvimento de relacionamentos. Você pode iniciar (ou encerrar) cada aula separando dez minutos para cumprimentos ou bate-papos. Assim terá tempo de programar uma variedade de atividades divertidas que servirão para unir o grupo. Pode criar, por exemplo, um comitê de boas-vindas e/ou de acompanhamento, encarregado de escrever bilhetinhos de agradecimento aos visitantes, e também ligar para os que faltaram no domingo. A classe pode comemorar os aniversários e outros eventos.

Ajudar os alunos a formar elos uns com os outros fará com que experimentem o que Jesus quis dizer quando ordenou: "... que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15.12).

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dê ação à sua turma

Quando penso nos vinte anos em que frequentei escola dominical, um fato se destaca: não consigo me lembrar de uma palestra sequer. Mas me lembro muito bem do dia em que ficamos quase congelados, ao sairmos à rua para aprendermos a ter compaixão dos desabrigados. Também me recordo da ocasião em que nossa classe se reuniu num sopão da cidade, e dos debates sobre a evolução e a criação. Outra coisa de que me recordo foi de quando estudamos o livro de Jonas dramatizando-o, e da sessão de perguntas e respostas sobre sexo, com um casal recém-casado que se sentia meio acanhado. Também me lembro de como minha fé foi provada na primeira vez em que dei uma aula.

Muitas aulas de escola dominical não funcionam porque passamos diretamente da escolha do assunto à apresentação da aula. Assim uma aula que poderia ser uma experiência de aprendizagem criativa, diversificada, cheia de ação, torna-se um monólogo entediante.

Pense como foi seu próprio desenvolvimento na fé. De que tipos de lições você se lembra? Quais as aulas que causaram mais impacto em sua vida? A maioria se recorda daquelas que exigiram nossa participação, onde tivemos de fazer alguma coisa.

Você pode adicionar ação à sua aula simplesmente diversificando sua maneira de comunicar. As lições ilustradas com objetos, situações simuladas, dramatizações, excursões, discussões, entrevistas, mesas redondas, debates, cadernos de atividades e jogos educativos interessam à turma e ampliam o volume de conteúdo retido.

Além disso estaremos fazendo como Jesus. Se ele tivesse instruído seus discípulos da maneira como ensinamos as classes da escola dominical, ele os teria levado para dentro de uma sala, sentando-os em filas de cadeiras, colocando ali um flanelógrafo e dando uma hora de aula. Em vez disso, ele optou por ação. Saiu a campo. Esse é um modelo que vale a pena seguir.

Na próxima semana: Bons relacionamentos na turma.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Educando com os olhos: os escultores da emoção

Guardem esta frase: “A sala de aula não é um exército de pessoas caladas nem um teatro onde o professor é o único ator e os alunos, espectadores passivos. Todos são atores da educação. A educação deve ser participativa”.

Em minha opinião, um quinto do tempo escolar deveria ser gasto com os alunos dando aulas na frente da classe. Os professores relaxariam nesse período, e os alunos se comprometeriam com a educação, desenvolveriam capacidade crítica, raciocínio esquemático, superariam a fobia social.

Peço aos mestres para darem especial atenção aos alunos tímidos. Eles têm diversos graus de fobia social, de expressar suas idéias em público. Estamos fabricando uma massa de jovens tímidos. Os tímidos falam pouco, mas pensam muito e, às vezes, se atormentam com seus pensamentos. Já disse, os tímidos costumam ser ótimos para os outros, mas péssimos para si mesmos. São éticos e preocupados com a sociedade, mas não cuidam da sua qualidade de vida.

Os educadores são escultores da emoção. Eduquem olhando nos olhos, eduquem com gestos: eles falam tanto quanto as palavras. Sentar em forma de ferradura ou em círculo aquieta o pensamento, melhora a concentração, diminui a ansiedade dos alunos. O clima da classe fica agradável e a interação social dá um grande salto.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Bem-vindos

Bom-vindos ao nosso blog da disciplina "Didática".

Aqui você poderá acompanhar regularmente artigos e publicações referentes a esta disciplina que servirá como ferramenta para somar ao seu aprendizado.

No que for necessário, pode sempre contar comigo. Meu e-mail para contato é o prof.flavio.ftw@gmail.com

Bom estudo!!!